quarta-feira, 10 de março de 2010

Um acalorado debate

Vai fazer, em Abril, 90 anos que aconteceu um aceso debate sobre a natureza de uns objectos celestes conhecidos, na altura, por "nebulosas": seriam objectos da nossa Galáxia ou tratava-se de galáxias, portanto exteriores à nossa.
Mas antes de passar ao debate, convém esclarecer alguns conceitos que todos conhecem mas sem sempre entenderem bem o seu conteúdo.

CONSTELAÇÃO
É um grupo de estrelas que, quando as olhamos, nos parecem próximas entre si mas geralmente não estão. Nesses grupos os Antigos descobriam uma forma de um animal ou de um qualquer objecto.


Já que se trata de uma observação popular, a mesma constelação pode ter nomes diferentes conformes os povos. Por exemplo a Ursa Maior, que, segundo a mitologia grega, resultara de um castigo aplicado por Zeus a Calisto, tinha muitos nomes. C. Sagan mostra em seis esquemas os nomes dados por diversas culturas:
- na América do Norte: A Grande Colher;
- na França: A Caçarola;
- na Inglaterra: O Arado;
- na China antiga: O Burocrata Celestial;
- na Grécia antiga e os nativos da América viam-na como a cauda da Ursa Maior
- na Europa medieval: A Carruagem ou A Carroça de Carlos;
- no Egipto antigo: representavam-na, num grupo maior de estrelas, como um Touro a puxar um homem.

Fonte: Carl SAGAN, Cosmos, pp.46 e 47

Muito curiosa é a designação de Os Sete Sábios que lhe é dada na Índia.

Para os astrónomos, a constelação não passa de uma região do espaço. Há 88 constelações registadas.


GALÁXIA
É formada por um conjunto de milhares de milhões de estrelas e nebulosas ligadas pela força gravitacional que as faz orbitar em torno do seu centro. Portanto todos os corpos estão próximos uns dos outros, o que não acontece na constelação.
Há vários tipos de Galáxias: as Espirais (S) que se caracterizam por ter braços em forma de espiral e as Elípticas (E) que apresentam uma forma esférica ou elipsoidal., com vários sub-tipos: a, b e c. Algumas das Espirais são barradas, isto é, têm um estrtura do tipo de um barra a atravessar o núcleo.


Este grupo local apresenta três galáxias de diferentes tipos: a da esquerda é uma espiral vista de lado, a NGC 5981, depois vem uma elíptica, a NGC 5982 e, fnalmente, uma espiral "vista de cima, a NGC 5985.

Há ainda um outro tipo de galáxias - as Irregulares - que engloba todas as que não cabem nas Espirais nem nas Elípticas.


Etimologicamente a palavra vem do grego galaxia, “leitoso”, de gala, “leite”. É por isso que a nossa galáxia se chama Via Láctea, pois, segundo a mitologia grega, Zeus pôs o seu filho Hércules, que tivera de uma mulher mortal, Alcmena, a mamar no seio de Hera, enquanto esta dormia, para o tornar imortal. Hera, ao acordar e ver ali um estranho, afastou-o bruscamente e um jacto de leite saiu disparado pelo céu fora.


Descobriu-se recentemente que a nossa é uma galáxia espiral barrada, isto é, com uma estrutura em barra no núcleo:


Deixo aqui uma curiosidade que mistura galáxias ligadas gravitacionalmente e uma outra que nada tem a ver com o grupo:


Deste sexteto nem todas estão ligadas gravitacionalmente, isto é, na mesma vizinhança. A galáxia espiral, no centro, não tem nada a ver com o conjunto, "foi apanhada" na fotografia. Sabe-se isso, através da medição das "velocidade de afastamento" das várias galáxias: enquanto a das "cinco companheiras" oscila entre 4000 a 4500 km/s, a galáxia espiral está a fastar-se a 20 000 km/s. Mais à frente veremos como se medem as velocidades de afastamento ou de aproximação. Rigorosamente falando, não se trata de um sexteto mas de um quinteto, pois, a "galáxia" do lado direito não passa de um conjunto de estrelas projectadas para o espaço pelos "efeitos de maré" violentíssimos das quatro galáxias.

Mais “claro” é o caso do Quinteto de Stephan, o primeiro grupo de galáxias descoberto, em 1877, e também o mais estudado. Também aqui só quatro galáxias estão próximas umas das outras, isto é, unidas gravitacionalmente, e, portanto, a aproximarem-se entre si; algumas até já entraram em colisão. Este quarteto está a 300 milhões de anos-luz (Ma.l.) de nós, enquanto a espiral azul, que parece também ir chocar com as outras, está muito afastada, pois encontra-se sete vezes mais próxima de nos, a apenas 40 Ma.l..



Outra curiosidade: Não parece mesmo uma baleia?


Para conhecer os váriso tipode galáxias foi criado um Projecto Galaxy Zoo




NEBULOSA
Formada por nuvens de poeira, Hidrogénio e gases ionizados, são regiões propícias à formação de estrelas.
A mais famosa é a M16, a Nebulosa da Águia, mundialmente conhecida por esta fotografia divulgada pela NASA. como "Os Pilares da Criação":


Trata-se de glóbulos gasosos (EGGs) que se evaporam de pilares formados por Hidrogénio molecular e poeira. Estes pilares gigantes têm um comprimento de vários anos-luz e são tão densos que o gás interior se contrai gravitacionalmente e origina estrelas. 

NEBULOSA PLANETÁRIA
É um invólucro brilhante de gases, restos da “morte” violenta de estrelas. Nada tem a ver com os planetas: o seu nome resulta do facto de se assemelhar a planetas gigantes.São geralmente objectos ténues, têm uma vida curta (dezenas de milhares de anos) e nenhuma é visível a olho nu. Na nossa Galáxia há cerca de 1500.
A primeira foi descoberta por Messier, em 1764, que a classificou como M 27.




Esta nebulosa planetária foi criada pela brilhante estrela envelhecida (aging) visível no meio da fotografia. Esta fotografia com imagens "falsas" mostra um gás de Hidrogénio (verde) e uns glóbulos enigmáticos de um denso gás molecular e poeira (vermelho).

1 comentário:

Inês disse...

Parabéns pelo teu blog Zé Dias, vou tentar seguir, até porque até aqui estou a achar super interessante. Um abraço Inês