SUMÁRIO PARA O BLOGONAUTA
1. Big Bang (Sumário)
2. História milenar (Mitos da criação e começo da ciência
com os gregos)
3. Modelo geocêntrico e o aperfeiçoamento do Telescópio
4. Teólogos, filósofos, poetas e astrónomos em debate
5. Máquina do Mundo (Lusíadas, Canto X)
6. Descobrimentos e a "ciência" (1)
7. Descobrimentos e a "ciência" (2)
8. Descobrimentos e a "ciência" (3)
9. Os Lusíadas: significado da epopeia
10. As "contra-epopeias"
11. A caminho do modelo heliocêntrico
12. O génio do "método experimental" (Tycho Brahe
e Kepler)
12A. O génio do "método experimental" (Tycho
Brahe e Kepler)
13. O génio do "modelo experimental" (Galileu) –
Descobertas
14. Caso Galileu (1)
15. Caso Galileu (2)
16. A caminho das estrelas
17. Primeiras medições astronómicas
18. Medição das distâncias: Descoberta das Cefeidas
19. Medição das distâncias: a Fotografia entra em cena
20. Medição das distâncias: Cefeidas como Padrão de Medida
21. Interregno: Mini-Guiness sobre as Estrelas
22. História da Luz: Olho
23. História da Luz
24. Luz e Espectroscopia
25. Problema das Galáxias
26. Medição da velocidade das galáxias (Efeito de Doppler)
27. Lei de Hubble
28. Constante de Hubble
29. Modelos teóricos partem todos da Teoria da Relatividade
Esta equação tão
simples, estabelecida por Hubble – v = H
d (1*) – e que tem o seu nome, diz “apenas” que a velocidade (v) de uma
qualquer galáxia é igual à sua distância (d) multiplicada por um número fixo
(H), chamado a “constante de Hubble”.
O valor
desta constante depende das unidades utilizadas na velocidade e na distância. Como
a grandeza dos números envolvidos é muito grande, por razões práticas, a distância
em vez de vir em km vem em Mpc (2*). Hubble obteve, a partir dos muitos valores
por si observados (ver alguns deles na imagem abaixo do seu manuscrito), um
valor de H igual a 558 km/s/Mpc.
Se pegarmos nestes valores,
podemos fazer um pequeno exercício, semelhante ao que Hubble fez para ver o que
dá. Vamos à mais afastada (quanto mais afastada menor é o efeito da imprecisão
dos aparelhos), a Nebulosa no Aglomerado dos Gémeos, que se afasta a 14 300
milhas/s (14 300 x 1,609 = 23 007 km/s)
e está à distância de 135 000 000 anos-luz (= 41,41 Mps). Então, obtemos um valor muito próximo do apresentado
por Hubble.
Como
H = v / d, temos
H
= 23 007 / 41,41 = 556 km/s/Mps.
Se formos à mais
próxima, o valor já é bastante diferente. A NGC 221 afasta-se a 125 milhas/s
(125 x 1,609 = 201,1 km/s) e está à distância de 900 000 anos-luz (= 0,29 Mps).
Então, obtemos o valor de 693 km/s/Mps.
O que comprova que H é
um valor médio obtido a partir de muitas observações.
SIGNIFICADO
DE H
O valor da constante de
H significa que uma galáxia situada à distância de 1 Mps, se afasta à
velocidade de 558 km/s, considerando o valor obtido por Hubble (558 km/s/Mps);
outra galáxia, à distância de 10 Mps, afastar-se-á à velocidade de 5580 km/s;
outra que diste 100 Mps, deslocar-se-á a uma velocidade de 55 800 km/s/Mps.
Repare-se que H não é
uma velocidade de afastamento (se fosse, viria em km/s), mas uma taxa de
variação da velocidade de afastamento. Neste caso, a velocidade varia com o
afastamento: a 1 Mps, 558 km/s (558 x 1); a 2 Mps, 1116 km/s (558 x 2); a 10
Mps, 5580 km/s (558 x 10).
Para ajudar a perceber
melhor podemos utilizar o exemplo dos juros. Um juro de 2% ao ano significa que
vou receber (ou pagar), por cada 100 euros, ao fim de 1 ano, 2 euros (2 x 1); ao
fim de 2 anos, 4 euros (2 x2); ao fim de 10 anos, 20 euros (2 x 10).
Idade
do Universo
Se fizermos uma pequena
aplicação matemática, verificamos uma coisa interessante: podemos relacionar H
com a idade do Universo
Se as galáxias estão a
afastar-se significa que houve um momento em que elas devem estar estado muito
próximas umas das outras. Este tempo corresponde à idade do Universo e pode
calcular-se do seguinte modo.
Se uma galáxia se
afasta de nós à velocidade de 558 km/s está à distância de 1 Mps. Então, quanto
tempo demorou ela a afastar-se de nós 1 Mps, pois esse é o momento em que as
galáxias estavam todas juntas?
Portanto,
a idade do Universo calculada a partir da constante determinada por Hubble era
de 1800 milhões anos. Isto é, há 1800 milhões de anos atrás, as galáxias
estavam concentradas num zona muito pequena, tendo então começado a expandir-se.
Mas
este resultado vinha pôr em causa uma espécie de dogma sobre a natureza estática
do Universo: um Universo eterno e imutável.
É
certo que os astrónomos já tinham sido obrigados a reconhecer alguma evolução
com a descoberta de Novae e Supernovae. Mas essas situações pontuais, decorrentes da morte de uma estrela e possível nascimento de outras, não afectavam
a estabilidade e o equilíbrio do Universo como um todo.
Curiosamente estes resultados vinham
reforçar uma proposta teórica de Lemaître, em 1927, segundo a qual o
Universo ter-se-ia iniciado com uma enorme explosão de um pequeno “átomo
primordial”, um Big Bang (veremos
este modelo no próximo post).
Mas a generalidade
dos astrónomos rejeitava a ideia de evolução com um instante inicial bem definido.
Hubble, contudo, não se metia nessas discussões e especulações. Ele e o seu
assistente Humason afirmaram: “Os autores limitam-se a descrever as ‘aparentes
variações de velocidade’ sem ousarem nenhuma interpretação nem apontar o
respectivo significado cosmológico”. Humason contentara-se em fazer medições
que não podiam ser alteradas, mas recusava-se a analisar o seu significado: “Pode
dizer-se que sempre me agradou que a minha parte do trabalho tenha sido,
digamos, fundamental, no sentido de nada a poder alterar – seja for o
significado que se venha a atribuir-lhe. Estas riscas ficarão sempre onde as medi
e as velocidades, ou desvios para o vermelho ou o que quer que queiram
chamar-lhe, serão sempre as mesmas” (3*)
Então
é muito fácil: basta conhecer o valor de H para saber
a idade da Universo. Apesar dos problemas complexos que tem por detrás, esta
afirmação está correcta.
Havia um “pequeno”
problema. Os geólogos já sabiam naquele tempo que a idade da Terra era superior
a 2000 milhões de anos. Tínhamos, então, uma Terra mais velha que o Universo!!!
Embora, na altura, não
se soubesse, este paradoxo tinha uma solução muito simples: o valor de H não estava
bem calculado.
Portanto,
o problema reside em determinar correctamente o valor de H. Da lei de Hubble,
já sabemos que para determinar H precisamos de saber a velocidade de recessão
da galáxia e a sua distância. A maior dificuldade reside na determinação da
distância, pois há muitos factores, muitos métodos e vários condicionantes a
ter em conta. Por exemplo, baseando-se apenas nas Cefeidas, o valor de H é 75
km/s/Mps; segundo o HSTKeyProject, que utiliza outros métodos de determinação
de velocidades que alcançam maior amplitude, é 72.
Esse
tem sido um dos grandes desafios desde os tempos de Hubble, particularmente nos
últimos anos.
O
valor actualmente aceite, obtido pelos processos mais sofisticados dá um valor
próximo de 71, o que, em conjunto com outras descobertas mais recentes, estima
uma idade para o Universo de 13700 milhões de anos.
CONSIDERAÇÕES GERALMENTE DESCONSIDERADAS
Tamanho do universo
Sabida a idade do
Universo parece fácil, calcular o seu tamanho ou o seu volume.
Se o Universo tem a
idade de 13,7 mil milhões de anos (Ganos)
e se em cada ano a luz percorre 1 ano-luz (10 000 000 000 000 = 10 x 1012
km), então o Universo deve ter um raio de 13,7 mil milhões de anos-luz ou 13,7
x 1019 km.
Parece óbvio, não é?
É, mas está errado. Por uma razão muito simples: o Universo está em expansão.
Vamos a ver se explico
bem.
Imaginemos uma formiga
sobre uma mesa a deslocar-se à velocidade de 1 cm/s. Ao fim de 2 s, terá
percorrido 2 cm; 3s, 3cm; etc.
Continuemos a
imaginar. Coloquemos agora a formiga sobre um balão esvaziado. A formiga começa
a andar e repete os valores anteriores; 2 s, 2 cm.
Agora vamos encher o balão.
Depois dele estar meio cheio, paremos de encher o balão e coloquemos a formiga na
sua superfície. A formiga começa a andar e repete os valores anteriores; 2 s,
2 cm.
De seguida, continuamos
a encher o balão e a formiga a andar nele. Que distância é que a formiga
percorre em 2 s? Não, não é 2 cm. Porquê? Porque a formiga caminhou 2 cm mas a
superfície do balão esticou-se mais um bocadinho, digamos, 0,5 cm. Então a
distância percorrida pela formiga foi de 2,5 cm (2 cm dela e 0,5 cm da expansão do
balão) e não 2 cm!
(Perdi a fonte da imagem do lado direito)
Olhemos agora para o
Universo. Se ele tem a idade de 13,7 Ganos,
a luz realmente já “anda a andar” há 13,7 Ganos.
Simplesmente nesse tempo o Universo expandiu-se bastante. A luz apanhou boleia, cavalgando a expansão. Portanto a distância
percorrida pela luz desde o início é muito mais: 13,7 Ga.l. (Ganos-luz) mais o que o Universo se expandiu. Quanto é que o
Universo se expandiu. Os cientistas, a partir de dados fornecidos pela sonda WMAP, falam num raio de 39 Ganos. Não me perguntem como, porque eu não sei.
Olhar
no passado
Uma ideia pouco
habitual, mas que queria já deixar aqui bem clara, é que quando olhamos o céu
estamos a olhar para o passado e não para o (espaço) presente. O que vemos já
aconteceu há muitos anos.
O que queremos dizer,
quando dizemos que o Sol está a 8 minutos-luz. Podemos, como é habitual, dizer
que está à distância de 8 minutos-luz, isto é, a distância percorrida pela luz em 8 minutos. Vamos fazer as
contas:
8 minutos x
60 = 480 segundos
480 s x 300
000 km/s (velocidade da luz) dá cerca de 150 milhões de km.
Toda a gente sabe que
o Sol está a 150 milhões de km, distância que até se chama UA (Unidade
Astronómica).
Ou podemos dizer, o
que é realmente correcto, que vemos o Sol
como ele era há 8 minutos. Nós não vemos no presente, vemos no passado. Não
podemos olhar para o lado, pois quando nos afastamos, por exemplo, 300 000 km
já estamos a ver o objecto que está essa distância como era há 1 segundo. Como
já disse, o Sol é visto como era há 8 minutos.
Por exemplo, a galáxia Andrómeda, a galáxia espiral
mais próxima de nós, está a 2,9 milhões de anos-luz. Isto significa que o que
vemos, ao olhar para Andrómeda, é a luz que ela emitiu há 2,9 milhões de anos,
quando Lucy vivia na África, sem sonhar que, da sua
linhagem, evoluiriam primatas capazes de ir à Lua.
z (redshift)
O presente só existe
ao nosso lado. O resto é só passado e cada vez mais longínquo. Portanto eu não
posso propriamente falar em distância porque estou a comparar dois objectos em
tempos diferentes.
Por isso os astrónomos
utilizam uma unidade especial, z,
para se referirem ao ponto (ou instante) onde se encontra uma galáxia,
utilizando o redshift.
O desvio para o vermelho (red
shift), designado normalmente como z,
é um valor sempre positivo (mede afastamentos) e o seu valor obtém-se dividindo
o desvio observado no comprimento de onda, pelo comprimento de onda original
(sem movimento):
z = ( λobservado
- λrepouso) / λrepouso
Por exemplo,
uma risca medida no laboratório aparece nos 393,3 nm (λrepouso). Mas
medida numa galáxia distante aparece nos 401,8 nm (λobservado). Então
o red shift (z) será:
z = (401,8 nm - 393,3 nm) / 393,3 nm
= 0,0216
O z dá-nos a
idade da galáxia através desta equivalência
Equivalência entre z (redshift) e a idade (age of Universe) da galáxia |
Outro exemplo da equivalência
Fonte: Ciel & Space, Junho.2005
Fonte: Ciel & Space, Junho.2005
2 comentários:
Curiosamente, ou talvez não, o H tem as mesmas dimensões de uma grandeza que conhecemos bem: a frequência. Isto é, no SI (Sistema Internacional), a unidade de H é o herz (Hz).
Mas não consigo atingir a semelhança de significados destas duas grandezas, H e f.
Ajudem-me!
Ou estou a pensar mal??
Em primeiro lugar, essa questão é um pouco elaborada para este blog que pretende ser o mais simples possível.
DE qualquer modo, não sei se posso ajudar, mas diria o seguinte. A definição de H é uma velocidade por um comprimento e não um inverso do tempo. O inverso do tempo aparece por uma simplificação matemática: um velocidade a dividir por um comprimento dá o inverso do tempo, mas isto só tem significado matemático. Esta simplificação matemática não tem significado físico. O significado físico vem da definição de H como uma velocidade a dividir por um comprimento. É o que me ocorre assim de momento.
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