Tenho quase pronto o post que retomará a sequência indicada no início de cada post. Mas problemas vários incluindo de saúde, atrasaram-me e, para ir dando notícias, aqui deixo uma entrevista, publicada na revista La Recherche, que trata de um tema que abordei aqui, há um ano: a odisseia da sonda Hayabusa que, apesar de tantos problemas, conseguiu regressar à Terra com uma amostra da superfície do asteróide Itokawa.
Em grande plano, a sonda, que vai começar a fragmentar-se devido ao calor de atrito com a atmosfera, depois de ejectar a cápsula MINERVA, que transporta o material recolhido na superfície do asteróide Itokawa.
Num post anterior (14.Maio.2010), ainda antes da chegada da sonda Hayabusa, procurei contar a história incrível de mandar uma sonda do Japão e fazê-la andar cerca de 600 milhões de quilómetros para aterrar num pequeno asteróide, o Itokawa, em forma de um feijão com uma estrangulação a meio, com 500 m de comprimento e um diâmetro inferior a 300 m.
As falhas no equipamento de propulsão, de altimetria, as interrupções repetidas no sistema de comunicação fizeram desta viagem uma verdadeira odisseia. O material recolhido, se realmente se pode recolher algum, ficaria guardado na cápsula MINERVA (MIcro/Nano Experimental Robot Vehicle for Asteroid), com 591 g de peso e o tamanho de uma máquina de café. A incerteza manteve-se durante três longos anos de angústia: a sonda teria aterrado ou só se aproximou e, neste caso, o suficiente para recolher amostras da superfície?
Em Nov.2010, foi "confirmada a presença de 1.500 partículas de asteróide", todas de tamanho inferior a 10 micra (milésimo de milímetro), o que exige tecnologias especiais para análises mais avançada.
Sobre os primeiros resultados ainda preliminares, aqui fica a entrevista dada por Brigitte ZNADA, especialista de meteoritos, à revista La Recherche (nº453 – Junho.2011), p.13.
Uma equipa japonesa apresentou os resultados preliminares da análise das primeiras amostras recolhidas, em 2005, num asteróide, pela sonda japonesa Hayabusa. O que revelaram?
B.Z. – Pensava-se, a partir do estudo à distância do espectro luminoso deste asteróide baptizado Itokawa, que a sua composição era semelhante à dos meteoritos chamados “condritos ordinários”. Hoje, estas primeiras amostras, de minúsculos grãos recolhidos à superfície do asteróide pela sonda Hayabusa, forneceram a prova que se esperava. A análise química mostra o seu parentesco com estes meteoritos e constitui uma referência que será muito útil.
O que são condritos ordinários?
B.Z. – São meteoritos que caem com maior frequência sobre a Terra. Provêm de asteróides que não foram fundidos depois da formação do sistema solar, ao contrário dos planetas telúricos que sofreram profundas alterações devido ao calor libertado pelos seus elementos radioactivos. Estes meteoritos, e com maioria de razão os asteróides de que foram arrancados depois de alguma colisão, são as testemunhas preciosas dos primeiros momentos do sistema solar, que nos informam das condições da sua formação e nomeadamente a sua idade.
Por que era tão importante estabelecer uma ligação?
B.Z. – Porque, a partir de agora, quando o espectro de um asteróide observado for semelhante ao do Itokawa, poderá associar-se aos condritos ordinários. Até agora, podia fazer-se uma aproximação, na condição de se ter em conta um fenómeno particular: a “erosão espacial”, devida às radiações e aos impactos de micrometoritos, que altera a superfície dos asteróides. O espectro luminoso dos asteróides é, com efeito, modificado relativamente ao dos condritos da mesma natureza. Nos anos 1990, conseguiu-se modelizar este efeito para comparar as observações, mas hoje a recolha de amostras sobre os asteróides permite estudá-los com precisão.
A missão Hayabusa 2 deverá recolher amostras sobre um asteróide rico em carbono. O que espera desta missão?
B.Z. – O Hayabusa foi um sucesso, apesar dos numerosos problemas técnicos surgidos. O Hayabusa 2 será ainda mais interessante, porque estes asteróides carbonados ou carbonáceos contêm quase intacto o material da nebulosa primitiva, a nuvem de gás e poeiras que deu origem ao sistema solar. Todos os meteoritos que nos chegaram foram mais ou menos alterados, o que obriga a fazer muitas hipóteses para reconstruir o material original. Graças à Hayabusa 2, espera-se poder chegar o mais próximo possível desse material (da nebulosa primitiva).
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