segunda-feira, 4 de abril de 2011

CASO GALILEU (1)

Sumário para o blogonauta

1. Big Bang (Sumário)
2. História milenar (Mitos da criação e começo da ciência com os gregos)
3. Modelo geocêntrico e o aperfeiçoamento do Telescópio
4. Teólogos, filósofos, poetas e astrónomos em debate
5. Máquina do Mundo (Lusíadas, Canto X)
6. Descobrimentos e a "ciência" (1)
7. Descobrimentos e a "ciência" (2)
8. Descobrimentos e a "ciência" (3)
9. Os Lusíadas: significado da epopeia
10. As "contra-epopeias"
11. A caminho do modelo heliocêntrico
12. O génio do "método experimental" (Tycho Brahe e Kepler)
12A. O génio do "método experimental" (Tycho Brahe e Kepler)
13. O génio do "modelo experimental" (Galileu) - Descobertas
14. Caso Galileu (1)
15. Caso Galleu (2)
16. Medição das distâncias astronómicas (Cefeidas)
17. Medição das velocidades das galáxias (Efeito de Doppler)
18. Lei de Hubble, que apresenta provas experimentais da expansão do Universo
19. Modelos teóricos, que partem todos da Teoria da Relatividade
20. Modelo de Einstein
21. Modelo de Friedmann-Lemaître.

(continuação)




Quando se fala do “Caso Galileu” pensa-se geralmente no processo de 1632, que terminou com a sua abjuração. Contudo este processo teve uma longa história, particularmente um primeiro processo, o de 1616, cujos antecedentes e o seu desenrolar deixaram marcas profundas que vão estar na base do processo de 1633..
Por isso, vou demorar-me um pouco nesta “embrulhada” até 1616. Desci a pormenores que não interessarão a muitos leitores, pelo que quase metade deste post é feito de notas, cuja leitura não é necessária para perceber bem o que se passou.

           
Depois das suas “revolucionárias” observações astronómicas, Galileu viajou, em Março de 1611 até Roma para fazer a sua apresentação.
O cardeal Bellarmino olhou através do seu telescópio e nomeou um comité científico de padres eruditos, maioritariamente jesuítas, para examinar as afirmações de Galileu. As suas conclusões não poderiam ter sido mais favoráveis a Galileu:
- a Via Láctea é realmente composta por um vasto número de estrelas;
- Saturno apresenta uma estranha forma oval, com protuberâncias laterais;
- a superfície da Lua é realmente irregular;
- Vénus apresenta fases;
- Júpiter tem quatro luas à sua volta.

      
Por isso, os jesuítas do Colégio Romano, que no início tinham manifestado dúvidas, mudaram de opinião, embora não aceitassem a sua explicação. Contudo abandonaram o sistema ptolomaico, adoptando o modelo de Tycho Brahe. O próprio Papa e vários cardeais lhe manifestaram a sua estima.

De qualquer modo, este segundo período (1610-1632), que se caracteriza pela polémica em torno da tese copernicana – movimento da Terra e centralidade do Sol –, representa uma viragem no modo de actuação de Galileu:
- no domínio científico, passa das investigações mecânicas, dominantes no período paduano (1592-1610), a um programa mais amplo que combina a investigação observacional com  a preocupação teórica com a finalidade de obter uma explicação mecânica do sistema copernicano e provar o movimento da Terra: esta viragem significa a tomada de consciência da necessidade de uma nova cosmologia e de uma nova teoria do movimento capaz de responder às novas concepções astronómica;
- numa dimensão cultural mais ampla, assiste-se à constituição gradual, nomeadamente com a recusa do princípio de autoridade, de uma estratégia combinada de defesa do copernicanismo e de ataque vigoroso à cosmologia tradicional e à sua visão de ciência na qual ela se assenta.
Estas posições vão ter um forte impacto na própria organização curricular e metodológica das universidades italianas da época, porque põem em causa a centralidade e precedência do juízo teológico na organização do sistema de transmissão do conhecimento.

Neste contexto, o decreto de 1616, que condenou o copernicanismo e atirou o De Revolutionibus de Copérnico para o Índice dos livros proibidos, é um ponto marcante, pelo que a ele irei dar especial atenção sobretudo ao seu contexto e causas.
A polémica inicia-se em 1610 com o Sidereus Nuncius, pois as informações veiculadas vinham subverter a visão cosmológica estabelecida desde a Antiguidade, consolidada pela teologia cristã e pelo ensinamento universitário. Pela primeira vez, há evidência observacional contra a teoria aristotélico-ptolomaica e a favor de um universo bastante mais vasto do que se supunha.
Para os tradicionalistas era inaceitável a conclusão que Galileu extraía das suas observações, afirmando a superioridade do sistema copernicano e a realidade do movimento da Terra. Hoje, temos dificuldade em perceber a dificuldade que era aceitar a simples ideia de que a Terra, como os outros planetas, girava em volta do Sol.
Se é verdade que, como supõe Copérnico, o Sol é o centro do sistema, então pode pôr-se em dúvida a existência do centro do universo. Isso significa que não apenas o homem é retirado do centro, mas agora nem mesmo se sabe se existe um centro do universo. Não se sabe sequer se o universo tem centro, se tem forma, qual é o seu tamanho, e, em suma, se ele constitui um sistema.

CRÍTICAS TEOLÓGICAS
As críticas as polémicas contra Galileu e seus seguidores não tardaram, sobretudo as teológicas, depois da sua vitória indiscutível sobre Scheiner.
A sua adesão explícita ao sistema copernicano provocaram uma insatisfação crescente nos sectores universitários tradicionalistas, muito menos preparados cientificamente que os jesuítas. E, porque não conseguiam responder às críticas de Galileu quanto aos princípios cosmológicos aristotélicos, mudaram de táctica, passando a utilizar argumentos teológicos (bíblicos) contra o sistema de Copérnico.
         
CARTA A CASTELLI
A 21.Dez.1613), Galileu enviou uma célebre Carta a Castelli, que o informara sobre as primeiras objecções teológicas referidas num jantar no palácio grão-ducal, em Pisa. Nesta Carta, em estilo de manifesto, pois foi escrita para ser mostrada (1*), Galileu defendia duas posições polémicas.
1) Independência da investigação científica relativamente à Sagrada Escritura
Estabelecia uma clara distinção entre a fé e a ciência que possui critérios de avaliação independentes dos critérios da autoridade teológica; assim, ataca a própria base da exegese ortodoxa, que via uma contradição entre as afirmações de mobilidade da Terra e centralidade do Sol, ao interpretar literalmente a passagem de Josué (Jos 10,13) (2*). Galileu reconhece que “a Sagrada Escritura jamais pode mentir ou errar, mas serem seus decretos de absoluta e inviolável verdade”, mas acrescenta logo a seguir que, “embora a Escritura não possa errar, poderá errar algum dos seus intérpretes e expositores”. Por exemplo, tomar à letra o significado das palavras, pode conduzir não só a contradições, mas também a graves heresias e blasfémias também, “pois seria preciso dar a Deus e pés e mãos e olhos e não menos afectos corporais e humanos, como de ira, de arrependimento, de ódio, mas também talvez de esquecimento das coisas passadas e de ignorância das futuras” (3*).


2) Existência de duas linguagens radicalmente distintas
Há a linguagem comum, ditada pelo Espírito Santo (Bíblia), para se fazer entender por todos e a linguagem científica, para a qual o mesmo Deus dotou os homens dos meios necessários para alcançar a verdade com rigor científico. A verdade é só uma, mas as linguagens usadas para exprimi-la são duas. Renunciar, no âmbito da investigação da natureza, à linguagem usada por Deus na Bíblia, não significa renunciar à Bíblia, mas antes passar de um tipo de linguagem a outro, este também usado por Deus, não quando falava aos homens, mas quando escrevia o livro da natureza (4*). Por outras palavras escritas na Carta a Cristina de Lorena: “a intenção do Espírito Santo (na Bíblia) é ensinar como se vai para o céu e não como vai o céu” (l’intenzione delle Spirito Santo essere d’insegnarci come si vadia al cielo, e non come vadia il cielo).
Esta distinção encerrava em si duas afirmações novas:
- a liberdade de pesquisa científica, baseada na ideia da suficiência do método científico;
- a universalidade da razão científica, que os exegetas da Bíblia deviam ter em conta.
Com este binómio, Galileu afirma a autonomia e a superioridade da ciência matemática com relação à teologia, o que punha em causa a hierarquia das disciplinas universitárias e colidia com a questão teológica da interpretação bíblico, que caía sob a jurisdição da Inquisição.

Castelli mostrou esta carta a um influente padre dominicano Niccolò Lorini, que enviou, a 7. Fev.1615, uma cópia à Inquisição romana para a investigação. Galileu enviou, então, uma confirmação da carta para Roma onde argumentava que nem a Bíblia nem a natureza podiam falar de modo errado e que a investigação da natureza era função do cientista, enquanto a reconciliação dos factos científicos com a linguagem da Bíblia era a dos teólogos.

ACUSAÇÕES
A 20.Março.1615, o dominicano Tommaso Caccini, invocando o testemunho do prior de Santa Maria Novella, Ferdinando Ximenes, denunciou Galileu ao Santo Ofício porque:
- escreveu duas frases na Carta a Castelli – La terra secondo sè tutta si muove etiam di moto diurno e Il sole è immobile – que “segundo a minha consciência repugnam à divina Escritura exposta pelos Santos Padres e consequentemente repugnam à fé” (5*);
- alguns dos seus discípulos fizeram três afirmações heréticas: 1) Deus não é substância mas acidente; 2) Deus é sensitivo, porque nele há sentido divino; 3) os milagres que os santos fazem não são verdadeiros milagres (6*);
- ele e os seus alunos fundaram uma Academia, a dos Lincei, e correspondiam-se com “outro da Alemanha” (7*); embora Galileu fosse considerado por muitos como bom católico, o outro “é tido por suspeito em coisas da fé, pois diz-se que é muito íntimo do frade Paolo, muito famoso em Veneza pela sua impiedade” (8*); falar da Alemanha, um país de maioria protestante, e do correspondente amigo de Paolo Sarpi, que fora excomungado (9*), era uma insinuação para desacreditar Galileu.
Mais tarde,o padre Ximenes, que fora citado por T. Caccini, afirmava, perante o Inquisidor de Florença, que:
- nunca ouvira os discípulos de Galileu dizer que os milagres dos santos não eram verdadeiros milagres;
- confirmava a acusação sobre o movimento da Terra, mas esclarece que a afirmação de que Deus era sensitivo, a ouvira apenas aos seus discípulos: “Deus é acidente e não dá substância às coisas nem quantidade contínua e que cada coisa é quantidade discreta, composta de vazio” (10*).
Entretanto, a 14.Nov.1615, o paduano G. Attavanti, negava perante o Inquisidor de Florença que fosse discípulo de Galileu, um “boníssimo cattolico” ou que lhe ouvisse afirmações contrárias à Escritura. As discussões que Galileu mantivera com Ximenes eram apenas académicas (per modum disputationis) e delas não se podia retirar nenhuma opinião conclusiva.

CARDEAL BELLARMINO ENTRA EM CENA
Mas retomemos a cronologia dos acontecimentos.
A 7.Março, o carmelita P. A. Foscarini mandou à Academia dei Lincei uma cópia da Carta sobre a opinião dos pitagóricos e de Copérnico, que pretendia demonstrar a concordância da teoria copernicana com a Bíblia. Vinha em boa altura, mas podia acirrar ainda mas os ânimos contra Galileu.
A 12.Abril, o cardeal Belarmino escreveu uma carta famosa a Foscarini, na qual pré-anunciava de algum modo o quadro do que se iria passar. Convém lembrar que a posição do cardeal Bellarmino no debate sobre a incompatibilidade de Copérnico com a Bíblia não era uma simples opinião pessoal, mas, dado o seu currículo e lugares que ocupava, a expressão clara da concepção oficial de ciência, não só aceita pela Igreja, mas posta em prática pelos jesuítas em todos os níveis de sua política educacional.
A Carta está dividida, pelo próprio autor, em três tópicos.
1) Seria prudente falar ex suppositione e não de modo absoluto, com pensa que o fez Copérnico, para “salvar as aparências, melhor do que com epiciclos e excêntrico”, pois assim “não há perigo nenhum” (11*): Bellarmino enuncia assim a concepção instrumentalista da ciência, segundo a qual o sistema de Copérnico deve ser considerado, como mera hipótese matemática (ex suppositione), o melhor para “salvar as aparências” (12*). O mesmo dizia Osiander, no Prefácio ao De Revolutionibus, explicitamente: “não é necessário que essas hipóteses (astronómicas) sejam verdadeiras, nem mesmo verosímeis, bastando apenas que forneçam cálculos que concordem com as observações”. Isto é, as hipóteses astronómicas não têm um alcance real; não podem nem pretendem fornecer as causas dos movimentos celestes.
           
2) O Concílio (de Trento) proíbe escritos contrários ao consenso dos Santos Padres (13*), concluindo que a Igreja não “pode tolerar que se dê às Escrituras um sentido contrário aos Santos Padres e a todos os expositores gregos e latinos”. Contra os que afirmam, como Galileu, que os Santos Padres e a tradição só têm autoridade sobre as questões de fé e de moral, Bellarmino elabora uma distinção subtil, para evitar uma leitura restritiva da fórmula conciliar: nega que o copernicanismo não seja matéria de fé, “porque se não é matéria de fé ex parte objectis (por parte do objecto, isto é, o movimento da Terra não faz parte da fé), é matéria de fé ex parte discentis (por parte de quem fala, isto é, o movimento da Terra é negado pela Sagrada Escritura)”. Esta distinção tem a ver com a interpretação que deve dar-se aos primeiro (14*) e segundo (15*) decretos do Concílio de Trento (IV Sessão: 8.Abril.1546), nos quais se trata da interpretação da Bíblia no que se refere à “edificação da doutrina cristã in rebus fidei et morum”, isto é, em questões de fé e de moral, num contexto em que o termo mores não se limita à moralidade ou aos costumes, mas a todas as “práticas religiosas”. Portanto, neste enquadramento, o consenso dos Santos Padres e da Tradição não é normativo na interpretação da Escritura a não ser quando trata de matérias de fé e da moral. Galileu conclui que, fora dessas questões de fé e de moral, o consenso dos Santos Padres e da tradição não é decisivo, dando lugar ao exercício da razão autónoma. Ora Bellarmino, que conhecia bem a interpretação de Galileu, procurou retirar-lhe força argumentativa, dizendo que o movimento da Terra e a estabilidade do Sol são matérias de fé não em si mesmas (ex parte objectis), mas porque são afirmadas pela Escritura (ex parte discentis). Assim evita a interpretação restritiva do decreto conciliar, preparando a censura das teses copernicanas pela Sagrada Congregação do Índice, com base em evidência textual de sua incompatibilidade com passagens das Sagradas Escrituras, permitindo assim a aplicação jurídica dos decretos do concílio.

         
3) Se se demonstrar o copernicanismo, é necessário rever as interpretações tradicionais da Escritura; mas não acredita em tal demonstração (16*). Aqui, Bellarmino entra numa reflexão complexa, que parte de uma afirmação do De Revolutionibus sobre “o navio que se afasta da Terra” (17*), para apresentar como inconclusiva a afirmação de Galileu, segundo a qual, com base no princípio de relatividade do movimento (18*), há uma completa indistinguibilidade entre o repouso e o movimento da Terra para um observador que realiza a observação a partir da Terra. Bellarmino, sem negar directamente o princípio de relatividade, tenta negar-lhe a eficácia (19*).
Restará dizer que, três séculos depois, Einstein, substituindo o barco/porto por um comboio/estação ferroviária, chegou à Teoria da Relatividade Especial (1905), e que substituindo o barco / comboio por um elevador, chegou à Teoria da Relatividade Geral (1915). Mas esta afirmação esconde um longo caminho temporal e sobretudo científico.
De qualquer modo, o princípio da relatividade ganhara o estatuto de cidadania na ciência.

PROCESSO DE 1616
Perante tudo isto, Galileu resolveu ir pessoalmente a Roma, a 5.Dez.1615, contra os conselhos dos seus amigos e do embaixador da Toscana (20*), com dois objectivos: limpar o seu nome e evitar a supressão oficial do ensino do copernicanismo.


Durante o mês de Janeiro foi sujeito a vários interrogatórios pelo Santo Ofício.
A 24.Fev.1616, os teólogos do Santo Ofício analisaram as duas proposições fundamentais de Copérnico, cendurando-as:
- o Sol imóvel no centro do mundo (Sol est centrum mundi, et omnino imobilis motu locali) foi definida como filosoficamente “estulta e absurda” e formalmente herética (stolta e assurda in filosofia e formalmente eretica), pois contradiz a Sagrada Escritura;
- 2) a Terra não está no centro do mundo nem está imóvel (Terra non est centrum mundi nec immobilis, sed secundum se totam movetur, etiam motu diurno) foi considerada censurável em termos da filosofia e pelo menos errónea em termos da fé (hanc propositionem recipit eamdem censuram in philosophia; et spectando veritaem theologicam, ad minus esse in fide erroneam) .
A 25.Fev., Paulo V manda o Cardeal Bellarmino admoestar Galileu para que abandone a posição copernicana e, se se recusar, “na presença do escrivão e testemunhas, a abster-se absolutamente de ensinar e defender semelhante doutrina e opinião ou dela tratar (docere aut defendere, seu de ea tractare), seja encarcerado”. Portanto Galileu devia ser admoestado verbalmente pelo cardeal Bellarmino e, só se resistisse se aplicaria a intimação (“injunção”) do Santo Ofício.
Com data do dia seguinte, aparece um outro documento com uma redacção diferente da injunção (21*): que Galileu “abandone absolutamente a referida opinião, que o Sol é o centro do mundo imóvel e que a Terra se move, nem ouse daí em diante sustentá-la, ensiná-la ou defendê-la de modo algum, por palavras ou escritos (quovis modo, teneat, doceat aut defendat, verbo aut scriptis); caso contrário, seria processado pelo Santo Ofício”. Há fortes suspeitas de que este documento tenha sido forjado para possibilitar a condenação de 1632, até porque dele não consta a assinatura de Bellarmino, que morrera em 1621.
A 26.Fev., Galileu compareceu em casa de Bellarmino para receber a admoestação. Mas não se sabe o que se passou nesta reunião e há demasiadas teorias (22*) pelo que há quem defenda que é impossível vir a saber-se. Gribbin faz uma reconstituição muito divertida do que se terá passado: “A 26 de Fevereiro Bellarmino recebeu Galileu para lhe transmitir a decisão do Papa. Infelizmente os representantes da Inquisição, testemunhas e tudo estavam presentes na mesma sala, prontos para avançar se Galileu mostrasse algum vestígio de relutância em alinhar com o que Bellarmino tinha para dizer. Bellarmino encontrou-se com Galileu à porta e murmurou-lhe que o que quer que acontecesse a seguir, ele tinha de concordar com isso e não levantar objecções. Galileu, que conhecia demasiado bem quem eram as outras pessoas na sala, ouviu cuidadosamente a advertência do Papa e claramente não objectou. Nesta altura a Inquisição avançou, determinada em apanhar o seu homem, e lançou a crucial segunda advertência, a qual fazia referência ao ensino. Bellarmino, furioso (ou pelo menos dando uma boa impressão de fúria para dissimular as suas acções) empurrou Galileu para fora da sala antes que qualquer documento pudesse ser assinado. Mas isso não impediu a Inquisição de depositar um conjunto de “minutas” não assinadas, não reconhecidas pelo notário e sem testemunhas, do encontro nos registos oficiais.” (23*)
A 3.Março, a Congregação do Santo Ofício com a presença do papa, tendo em conta a opinião dos teólogos reunidos dias antes, tomou conhecimento do encontro entre Bellarmino e Galileu e decidiu:
- suspender a publicação do De Revolutionibus de Copérnico e do In Job de Didaco Stunica, enquanto não fossem devidamente corrigidos (suspendendos esse, donec corrigantur);
- condenar a obra de Foscarini (omnino prohibendum atque damnandum).
A 5.Março, a Congregação do Índice publicou o decreto que declara a teoria copernicana contrária à Sagrada Escritura (divinae Scripturae omnino adversantem), embora não utilize a palavra heresia, classificando-a apenas de “formaliter haereticam”. E não faz qualquer referência a Galileu.
A 11.Março, Galileu teve uma audiência, que classificou de “begninissima”, com Paulo V, na qual se queixou das calúnias dos seus detractores. O papa respondeu-lhe que conhecia bem a sua integridade e sinceridade e que, enquanto fosse vivo, ele poderia ficar sossegado (e che vivente lui io poteve esser securo), tendo repetidas vezes assegurado a “sua boa inclinação em seu favor” (24*).

Entretanto, como se ia difundindo a ideia de que Galileu tinha realmente abjurado (25*), resolveu pedir a Bellarmico uma Declaração autografada na qual se lê: “somente lhe foi comunicada a declaração, feita por Nosso Senhor (o papa) e publicada pela Sagrada Congregação do Índice, na qual se afirma que a doutrina atribuída a Copérnico, que a Terra se move ao redor do Sol e que o Sol está no centro do mundo sem mover-se de oriente para ocidente, é contrária às Sagradas Escrituras, e por isso não se pode defender nem sustentar”. Portanto há aqui duas novidades muito importantes: a ausência da palavra “ensinar” e da expressão restritiva “quovis modis (de modo algum)”.
Estas “faltas” eram cruciais, pois assim Galileu poderia continuar a ensinar o copernicanismo.  


RESUMINDO
Dos dois objectivos que o levaram a Roma, Galileu conseguiu o primeiro: que nenhuma acção disciplinar lhe fosse aplicada por causa da sua carta a Castelli ou do seu apoio a Copérnico no livro sobre as manchas solares. Mas falhou, como vimos, o segundo, porque Paulo V, irritado com a agitação em torno da de interpretação bíblica, sobre a qual decorria uma acesa disputa com os Protestantes, nomeou uma comissão para determinar o estatuto teológico do movimento da Terra.
De qualquer modo, Galileu teve oportunidade de se aperceber da existência de uma luta interna na Igreja entre os jesuítas de que fazia parte o cardeal Bellarmino, favoráveis a uma abertura à ciência moderna, e os dominicanos, fechados a qualquer concessão ao renovamento cultural.
(continua)

FONTES

As principais fontes que segui foram:

JOHN GRIBBIN, História da Ciência de 1543 ao presente, Europa-América, Mem Martins 2005.
JULES SPELLER , Galileo's inquisition trial revisited.
PABLO RUBÉN MARICONDA, O Diálogo de Galileu e a Condenação, in Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 10, n. 1, p. 77-160, jan.-jun. 2000.

(1*) Aliás, as mesmas ideias foram repetidas na Carta a Cristina de Lorena, a grã-duquesa da Toscana e que fora a anfitriã do jantar atrás referido, escrita em 1615 mas só publicada muito mais tarde, e nas duas a monsenhor Piero Dini, 16 de Fevereiro e 23.Março.1615.
(2*) Outra passagem onde se fala do movimento do Sol : "E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar de onde nasceu." (Ecl 1,5)
Passagens onde se afirma a imobilidade da Terra: "Lançou os fundamentos da terra, para que não vacile em tempo algum" (Sl 104,5); "Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece” (Ecl 1,4).
(3*) ”Potrebbe nondimeno talvolta errare alcuno de' suoi interpreti ed espositori, in varii modi: tra i quali uno sarebbe gravissimo e frequentissimo, quando volessero fermarsi sempre nel puro significato delle parole, perché così vi apparirebbono non solo diverse contradizioni, ma gravi eresie e bestemmie ancora; poi che sarebbe necessario dare a Iddio e piedi e mani e occhi, e non meno affetti corporali e umani, come d'ira, di pentimento, d'odio, e anco talvolta l'obblivione delle cose passate e l'ignoranza delle future. Onde, sì come nella Scrittura si trovano molte proposizioni le quali, quanto al nudo senso delle parole, hanno aspetto diverso dal vero, ma son poste in cotal guisa per accomodarsi alI'incapacità del vulgo, così per quei pochi che meritano d'esser separati dalla plebe è necessario che i saggi espositori produchino i veri sensi, e n'additino le ragioni particolari per che siano sotto cotali parole stati profferiti”.
 (4*) Esta distinção entre duas linguagens permite a Galileu:
- fazer a distinção entre os dois tipos de disciplinas: as ético-religiosas, que “sendo necessárias para a salvação dos homens e superando todo discurso humano, não podiam por outra ciência, nem por outro meio, fazer-se críveis senão pela boca do Espírito Santo”, e as naturais para as quais Deus dotou os homens de meio apropriados para o rigor científico;
- afirmar a superioridade da linguagem científica sobre a teológica: porque “a Escritura é em muitas passagens não só inadequada, mas necessita de explicitações diferentes do significado aparente das palavras, parece-me que nas disputas naturais dever-se-ia reservar-lhe o último lugar”.
(5*) “Propositioni, che, secondo la mia conscientia et intelligenza, repugnano alle divine Scritture esposte da' Santi Padri et conseguentemente repugnano alla fede, che c'insegna dover credere per vero ciò che nella Scrittura si contiene.
(6*) “Iddio non è altrimente sustanza, ma accidente; Iddio è sensitivo, perché in lui son sensi divinali; Veramente che i miracoli che si dicono esser fatti da' Santi, non sono veri miracoli.”
(7*) “Costui con altri sono in un'Accademia, non so se eretta da loro, che ha per titolo i Lincei; et hanno corrispondenza, cioè il detto Galileo, per quanto si vede da quel suo libro delle macchie solari, con altri di Germania.”
(8*) “Da molti è tenuto buon cattolico; da altri è tenuto per sospetto nelle cose della fede, perché dicono sii molto intimo di quel fra Paolo servita, tanto famoso in Venetia per le sue impietà, et dicono che anco di presente passino lettere tra di loro.”
(9*) Esta excomunhão enquadra-se na repressão inquisitorial, que não era exercida apenas contra as pessoas, mas também contra os Estados que se recusavam a acatar as pretensas prerrogativas legais da Igreja sobre seus territórios e cidadãos. A expressão mais acabada desse “conflito de jurisdição” encontra-se na Interdição de Veneza em 1605, que se seguiu à prisão de dois padres, réus de crimes comuns, que Veneza insistia em julgar pelas leis da República e segundo o direito civil, enquanto o papado exigia a extradição para Roma e um julgamento segundo o direito canónico. Como o senado de Veneza vetou a sua expropriação para Roma, a Igreja, sentindo-se atingida nas suas prerrogativas, lançou contra Veneza um interdito, que a isolava no plano político e diplomático, pois consistia no encerramento de todas as igrejas, a proibição de culto, a administração dos sacramentos e a excomunhão de todos os seus dirigentes e todos os que mantivessem relações com os venezianos. Veneza reagiu expulsando dos seus territórios todos os que, como os jesuítas e capuchinhos, se recusavam a cumprir as disposições da República. O conflito adquiriu tal dimensão que foi preciso a mediação do rei da França para resolvê-lo. No meio de tudo isto destaca-se a actuação intelectual de frade Paolo Sarpi, dos Servos de Maria, que fora nomeado pelo senado de Veneza consultor da República com o encargo de defender as suas razões no conflito com a Santa Sé.
(10*) Efectivamente, T. Campanella referira num escrito (18.Março.1614) que, ao tratar de coisas galileianas, “tinha descoberto que tudo era átomos”, convicção que confirmou duas décadas depois com a afirmação de que “Galileu em muitas coisas, especialmente nos princípios, estava com Demócrito e da conversa que teve comigo em Roma e sobre as quais escreveu no opúsculo De Natantibus e no Saggiatore”. Ora, como veremos mais à frente, as posições atomista eram heréticas.
(11*) “Primeiro. Digo que me parece que Vossa Paternidade e o Senhor Galileu agiriam prudentemente contentando-se em falar ex suppositione e não absolutamente, como sempre acreditei que tenha falado Copérnico. Porque dizer que, supondo que a Terra se move e o Sol fica parado, salvam-se todas as aparências melhor do que utilizando excêntricos e epiciclos. É muito bem dito e não tem qualquer perigo; e isto basta ao matemático. Mas querer afirmar que realmente o Sol está no centro do mundo, e só gira sobre si mesmo sem correr do oriente para o ocidente, e que a Terra esteja no terceiro céu e gire com suma velocidade em torno do Sol, é uma coisa muito perigosa não apenas capaz de irritar todos os filósofos e teólogos escolásticos, mas também de causar dano à Santa Fé tornando falsas as Sagradas Escrituras”.
(12*) “Uma coisa é provar que se salvam as aparências supondo que o Sol está no centro do Mundo e que a Terra está no Céu; outra coisa é demonstrar que na verdade o Sol está no centro do Mundo e a Terra no Céu. Creio que a primeira demonstração pode ser dada; mas duvido muito da segunda; e, em caso de simples dúvida, vós não deveis abandonar a Escritura tal como ela foi exposta pelos Santos Padres”.
(13*) “Segundo, digo que, como Vossa Paternidade sabe, o Concílio proíbe escritos contra o consenso comum dos Santos Padres; e não digo só os Santos Padres, mas, se V.P. quiser ler os comentários modernos sobre o Génesis, os Salmos, o Eclesiástico, Josué, verá todos concordam em expor ad litteram que o Sol está no céu e gira em torno da Terra a grande velocidade e que a Terra está muito longe do céu e permanece no centro do mundo, imóvel. Considere agora, com a sua prudência, se a Igreja pode tolerar que se dê à Escritura um sentido contrário ao dos Santos Padres e ao de todos os expositores gregos e latinos”.
(14*) Primeiro decreto: “O Concílio também mantém claramente que essas verdades e regras estão contidas nos livros escritos e nas tradições não escritas que, recebidas pelos Apóstolos da boca do próprio Cristo ou dos próprios Apóstolos, e ditadas pelo Espírito Santo, chegaram até nós, transmitidas por assim dizer de mão em mão. Seguindo então o exemplo dos Padres ortodoxos, recebe e venera com um sentimento de igual piedade e reverência tanto todos os livros dos Velho e Novo Testamentos, pois um Deus é o autor de ambos, e também as próprias tradições, que se relacionam à fé e à moral, como tendo sido ditadas seja oralmente por Cristo seja pelo Espírito Santo, e preservada na Igreja Católica por uma sucessão ininterrupta.” (sublinhado meu)
(15*) Do segundo decreto, a passagem relevante encontra-se no segundo parágrafo: “Além disso, para controlar os espíritos petulantes, o Concílio decreta que, em matérias de fé e de moral pertencentes à edificação da doutrina cristã, ninguém, confiando em seu próprio juízo e distorcendo as Sagradas Escrituras segundo suas próprias concepções, ousará interpretá-las contrariamente àquele sentido que a Santa Mãe Igreja, a quem compete julgar seu verdadeiro sentido e significado, sustentou e sustenta, ou mesmo contrariamente à concordância unânime dos Padres, mesmo que tais interpretações não tenham sido publicadas. Aqueles que agirem diferentemente serão identificados pelos oficiais e punidos de acordo com as penalidades prescritas pela lei.” (sublinhado meu)
(16*) “Terceiro. Digo que quando fosse verdadeira a demonstração de que o Sol está no centro do mundo e a Terra no terceiro céu e de que o Sol não circunda a Terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso tentar com muito cuidado explicar as Escrituras que parecem contrárias, e dizer que não as entendemos ao invés de dizer que seja falso aquilo que se demonstra. Mas não crerei que há tal demonstração até que me seja mostrada. (...) Acrescento que aquele que escreveu “Levanta-se o Sol e se põe, e retorna a seu lugar, etc.” foi Salomão, o qual não só falou inspirado por Deus, como também foi homem muitíssimo mais sábio e douto que todos os outros nas ciências humanas e no conhecimento das coisas criadas, e toda esta sabedoria recebeu-a de Deus. Donde não ser verosímil que afirmasse uma coisa que fosse contrária à verdade demonstrada ou que se pudesse demonstrar. E, se me for dito que Salomão fala de acordo com a aparência, parecendo-nos que o Sol gira enquanto a Terra gira, como a quem se afasta da praia parece que a praia se afaste do navio, responderei que quem se afasta da praia, embora lhe pareça que a praia se afaste dele, sabe, no entanto, que isto é um erro e o corrige, vendo claramente que o navio se move e não a praia. Mas, no que se refere ao Sol e à Terra, não há nenhum perito na matéria que tenha necessidade de corrigir o erro porque experimenta claramente que a Terra está parada e que o olho não se engana quando julga que o Sol se move, como também não se engana quando julga que a Lua e as estrelas se movem.”
(17*) “E por que não havemos de admitir que a rotação diária é aparente no Céu mas real na Terra? E é assim que as coisas se passam na realidade, como disse o Eneias de Virgílio: “Nós saímos do porto e a Terra e as cidades recuam” (Eneida III,72). Na verdade, quando um navio navega com bonança, tudo o que está fora dele parece aos navegantes mover-se pelo reflexo daquele movimento e, por outro lado, pensam que estão imóveis com todas as coisas junto deles. Naturalmente, a mesma coisa acontece com o movimento da Terra de maneira que todo o Universo parece rodar” (COPÉRNICO, De Revolutionibus, Livro I, cap. VIII).
(18*) Foi o próprio Copérnico quem deu uma explicação para o princípio da relatividade: “É que, de uma maneira geral, toda a mudança de lugar que se vê ou é devida ao movimento da coisa observada, ou do observador, ou, obviamente, a um deslocamento desigual de um e de outro. Na verdade, entre objectos que se movem igualmente na mesma direcção, não se nota qualquer movimento, isto é, entre a coisa observada e o observador. Ora, a Terra é o lugar donde aquela rotação celeste é observada e se apresenta à nossa vista. Portanto, se algum movimento for atribuído à Terra, o mesmo movimento aparecerá em tudo que é exterior à Terra, mas na direcção oposta” (De Revolutionibus, Livro I, cap. V).
(19*) PABLO RUBÉN MARICONDA, a. cit., pp. 123-126.
(20*) O embaixador da Toscana, Guicciardini estava preocupado, porque “este não é um país capaz de discutir sobre a Lua, nem querer, nos tempos que correm, aceitar nem trazer doutrinas novas”.
(21*) Nos arquivos secretos da Inquisição havia dois documentos que pode ser muito interessante comparar. São eles:
1) Die Iovis 25 Februarii 1616.
Ill.mus D.Cardinalis Millinus notificavit RR.PP.DD. Assessori et Commissario S.cti Officii quod relata censura PP.Theologorum ad propositiones Gallilei Mathematici, quod sol sit centrum mundi et immobilis motu locali,et terram moveatur etiam motu diurno, S.mus ordinavit Ill.mo D. Cardinali Bellarmino, ut vocet coram se dictum Galileum, eumque moneat ad deserendam dictam opinionem; et si recusaverit parere, P.Commissarius, coram notario et testibus, faciat illi praeceptum ut omnino abstineat huiusmodi doctrinam et opinionem docere aut defendere, seu de ea tractare; si vero non acquieverit, carcereretur. (sublinhado meu).
2) Die Veneris 26 eiusdem.
In palatio solitae habitationis dicti ill.mi D.Card.lis Bellarminii, et in mansionibus Dominationis Suae Ill.mae, idem Ill.mus D.Card.lis, vocato supradicto Galileo, ipsoque coram D.sua Ill.ma existente, in praesentia admodum R.P.Fratris Michaeli Angeli Seghitii de Lauda, ordinis Praedicatorum, Commissarii generalis S.ti Officii, praedictum Galileum monuit de errore supradictae opinionis et ut illam deserat; et successive ac incontinenti, in mei etc et testium etc, praesente etiam adhuc eodem Ill.mo Card.li Supradictus P.Commissarius praedicto Galileo adhuc ibidem praesenti praecepit et ordinavit (proprio nomine ) S.mi D.N. Papae et totius Congregationis S.ti Officii, ut supradictam opinionem, quod sol sit centrum mundi et immobilis et terra moveatur, omnino relinquat, nec eam de caeteris, quovis modo, teneat, doceat aut defendat, verbo aut scriptis; alias, contra ipsum procedetur in S.Officio.Cui praecepto idem Galileus acquievit et parere promisit. Super quibus etc. Actum Romae ubi supra praesentibus ibidem R.do Badino Nores de Nicosia in regno Cypri, et Augustino Mongardo de loco Abbatiae Rosae, dioc.Politianensis, familiaribus dicti Ill.mi D.Cardinalis, testibus, etc. (sublinhado meu).

Enquanto o primeiro documento, que é apenas uma cópia do original parece ser autêntica, há fundamentadas razões para suspeitar que o segundo documento é falso, subrepticiamente inserido mais tarde, para processar Galileu, que ficara convencido de que apenas tinha de desistir da defesa da teoria de Copérnico, mas não de ensiná-lo. De facto, no primeiro documento está escrito que Galileu só deveria ter sido notificado da injunção se se recusasse a abandonar o copernicanismo. Esta suspeita é reforçada pela declaração autografada que Bellarmino entregou a Galileu.
(22*) JULES SPELLER, o. cit., pp. 87-110.
(23*) JOHN GRIBBIN, o. cit., pp. 106-107.
(24*) JULES SPELLER, o. cit., p.108.
(25*) O cardeal de Pisa, Francesco Bonciani informara Castelli que Galileu “ha abiurato segretamente in mano dell’Ill.mo Bellaramino” e também Matteo Caccini informava o seu irmão Alessandro que na Congregação do Santo Ofício “il Sig.r Galilei fece l’abiuration”.
(26*) Texto original: “Noi Roberto cardinale Bellarmino, havendo inteso che il sig. Galileo Galilei sia calunniato o imputato di havere abiurato in mano nostra, et anco di essere stato per ciò penitenziato di penitenzie salutari, et essendo ricercati della verità, diciamo che il suddetto sig. Galileo non ha abiurato in mano nostra né di altri qua in Roma, né meno in altro luogo che noi sappiamo, alcuna sua opinione o dottrina, né manco ha ricevuto penitenzie salutari né d'altra sorte, ma solo gli è stata denunziata la dichiarazione fatta da Nostro Signore [Paolo V] publicata dalla Sacra Congregazione dell'Indice, nella quale si contiene che la dottrina attribuita al Copernico, che la terra si muova intorno al sole e che il sole stia nel centro del mondo senza muoversi da oriente ad occidente, sia contraria alle Sacre Scritture, e però non si possa difendere né tenere. Et in fede di ciò habbiamo scritta e sottoscritta la presente di nostra propria mano, questo dì 26 di maggio 1616. Il medesimo di sopra, Roberto cardinale Bellarmino”. 

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