segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Os Lusíadas: significado da epopeia (2)

(continuação)

Sumário para situar o blogonauta
1. Big Bang (Sumário)
2. História milenar (Mitos da criação e começo da ciência com os gregos)
3. Modelo geocêntrico e o aperfeiçoamento do Telescópio
4. Teólogos, filósofos, poetas e astrónomos em debate
5. Máquina do Mundo (Lusíadas, Canto X)
6. Descobrimentos e a "ciência" (1)
7. Descobrimentos e a "ciência" (2)
8. Descobrimentos e a "ciência" (3)
9. Os Lusíadas: significado da epopeia (1)
10. Os Lusíadas: significado da epopeia (2)
11. Os Lusíadas: significado da epopeia (3)
12. As "contra-epopeias"
13. Os avanços a partir de Copérnico (modelo geocêntico) e de Galileu (aperfeiçoamento da "medição")
14. Medição das distâncias astronómicas (Cefeidas)
15. Medição das velocidades das galáxias (Efeito de Doppler)
16. Lei de Hubble, que apresenta provas experimentais da expansão do Universo
17. Modelos teóricos, que partem todos da Teoria da Relatividade
18. Modelo de Einstein
19. Modelo de Friedmann-Lemaître.

4.3. Resumo
Numa síntese curta podemos dizer que Os Lusíadas descrevem a viagem marítima até à Índia - ida e volta - realizada por Vasco da Gama. Depois veremos que não será assim tão simples.



Canto I
A narração, como já disse, começa com as naus já no Índico, entre "a costa etiópica e a famosa / Ilha de S. Lourenço” (Madagáscar), mas imediatamente sobe ao Olimpo para assistir ao concílio dos deuses que vão decidir o destino daquela navegação. Nele se desenha o confronto, que irá acompanhar todo o poema, entre Vénus, defensora dos portugueses, e Baco, que tudo tentará para os impedir de alcançar os seus objectivos.


Voltamos à ilha de Moçambique, onde Baco começa aplicar a sua estratégia. O piloto, que os guiará, vai enganá-los, mas acabam por conseguir chegar a Mombaça, onde novos perigos os espreitam. Camões termina com um lamento:
No mar, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida;
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno? (106)

Canto II
Perante nova cilada em Mombaça, Vénus intercede e Júpiter mandar avisar os portugueses para que sigam para Melinde, onde serão bem recebidos e terão tudo o que precisam. O rei pede a Vasco da Gama que lhe descreva a sua terra.



Canto III
Vasco da Gama começa por situar Portugal na Europa “quase cume da cabeça / De Europa toda” (20), passando depois à nossa história e descrevendo os vários reinados até D. Fernando. Aqui se destacam os episódios de Egas Moniz, da batalha de Ourique, da “formosíssima Maria”, da batalha do Salado e da morte de Inês de Castro.



Canto IV
Passa à segunda dinastia até D. Manuel, acabando com a partida para a Índia, dando especial atenção à batalha de Aljubarrota, ao sonho profético que teve D. Manuel e ao Velho do Restelo.



Canto V
Vasco da Gama descreve a viagem de Lisboa até Melinde. Aqui dá destaque à grande aventura marítima e ao espanto dos marinheiros perante vários fenómenos: a constelação do Cruzeiro do Sul, o fogo de Santelmo, a tromba marítima, o Adamastor, a doença e a morte causadas pelo escorbuto e as aventuras de “Veloso amigo” nos seus contactos com os nativos.



Canto VI
Despedem-se de Melinde, dando mais uma oportunidade a Baco que vai pedir a Neptuno que afunde aquelas naus. Mas, protegidos por Vénus, a viagem decorre calmamente o que permite a Veloso contar a história dos “Doze da Inglaterra” onde se incluía o famoso Magriço. Mas depois da bonança rebenta uma pavorosa tempestade que obriga Gama a pedir ajuda à “Divina Guarda”, até que conseguem chegar a Calecute.
O poeta termina com mais uma reflexão sua: os heróis não se fazem “encostados sempre nos antigos / Troncos nobres de seus antecessores”, nem com “varios deleites e infinitos”, mas numa luta dura e cheia de perigos e através de grandes feitos:
Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores;
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores;
Não nos leitos dourados, entre os finos
Animais de Moscóvia zebelinos;
Não cos manjares novos e esquisitos,
Não cos passeios moles e ouciosos,
Não cos vários deleites e infinitos,
Que afeminam os peitos generosos;
Não cos nunca vencidos appetitos,
Que a Fortuna tem sempre tão mimosos,
Que não sofre a nenhum que o passo mude
Pera algũa obra heróica de virtude;

Mas com buscar, co seu forçoso braço,
As honras que ele chame próprias suas;
Vigiando e vestindo o forjado aço,
Sofrendo tempestades e ondas cruas,
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul, e regiões de abrigo nuas,
Engolindo o corrupto mantimento
Temperado com um árduo sofrimento; ( 95-97)



Canto VII
Camões começa por comparar os feitos dos portugueses na luta contra os Muçulmanos e na expansão do Cristianismo com a divisão e conflitos internos dos outros povos cristãos.
Vasco da Gama desembarca e encontra-se com o Samorim, que envia o seu Catual colher informações dos portugueses não só junto do Monçaide, um mouro hispânico que falava castelhano e servira de intérprete entre Gama e o Samorim, mas também junto de Paulo da Gama que lhe explica o significado das figuras desenhadas nas bandeiras.
Mas antes, mais uma vez, o poeta termina com uma reflexão autobiográfica lamentando-se da forma como tem sido tratado, ele que só quis servir a pátria:
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram! (81)

Painel em azulejos no Liceu da Praia


Canto VIII
Paulo da Gama descreve aqueles varões ilustres: Luso, Viriato e Sertório, Conde D. Henrique, Afonso Henriques, Egas Moniz, Fuas Roupinho. Destaca a “ínclita geração”, os filhos de D. João I e Filipa de Lencastre.


No dia seguinte, o Samorim tenta tirar vantagens económicas do tratado com os portugueses, acusando Vasco da Gama de apátrida e pirata, mas acaba por autorizá-lo a comercializar. Entretanto, durante a noite, Baco moveu intrigas e convenceu o Catual a atacar os portugueses contras ordens do Samorim: fez Vasco da Gama refém e só, por medo do Samorim, aceitou trocar Vasco da Gama por mercadorias das naus.
Mais uma vez, Camões faz considerações sobre o poder demoníaco do “metal lusente e louro”:
Este rende munidas fortalezas;
Faz tredoros e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
E entrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências;
Este interpreta mais que sutilmente
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus omnipotente
Se dedicam, mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor, contudo, de virtude! (98-99)

Canto IX
O Catual ainda tenta demorar os portugueses para dar tempo que chegue uma armada muçulmana. Mas Monçaide, convertido agora ao cristianismo, consegue informar o capitão português dos planos dos inimigos, vender a mercadoria e obter especiarias. Vasco da Gama, com mercadoria e alguns prisioneiros indianos, pode finalmente partir trazendo provas da sua chegada à Índia.
Neste regresso Vénus decide premiar os navegadores inventando a Ilha dos Amores onde ao prazer físico se acrescenta um lauto banquete que retempera o corpo.
Assi a fermosa e a forte companhia
O dia quási todo estão passando
Nũa alma, doce, incógnita alegria,
Os trabalhos tão longos compensando;
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido. (88)


Mas o seu objectivo é bem mais elevado e universal: quer que surja uma nova raça, uma humanidade nova, para o que dá ordens expressas ao filho:
Quero que haja no reino Neptunino,
Onde eu nasci, progénie forte e bela;
E tome exemplo o mundo vil, malino,
Que contra tua potência se revela,
Por que entendam que muro Adamantino
Nem triste hypocresia val contra ela;
Mal haverá na terra quem se guarde
Se teu fogo imortal nas águas arde. (42)

Canto X
Depois de saciado o corpo, é tempo de saciar o espírito. Primeiro através da “bela ninfa” Sirena que profetiza os grandes feitos que os portugueses farão no Oriente. E, acabado o banquete, Tétis explica-lhes como funciona a Máquina do Mundo.


Faz uma referência ao naufrágio de Camões, em que se salvou a nado com Os Lusíadas, e a previsão de que a sua «Lira sonorosa / Será mais afamada que ditosa», isto é, a sua obra seria mais famosa do que a sua vida infeliz:
Este (o rio Mecon) receberá, plácido e brando,
No seu regaço os Cantos que molhados
Vêm do naufrágio triste e miserando,
Dos procelosos baxos escapados,
Das fomes, dos perigos grandes, quando
Será o injusto mando executado
Naquele cuja Lira sonorosa
Será mais afamada que ditosa. (128)

Depois disto, os portugueses embarcam e chegam sem mais problemas a Lisboa.


Epílogo
A epopeia termina com um epílogo (145-156), em que o poeta lamenta mais uma vez as injustiças que o Reino lhe terá cometido e renova a dedicatória a D. Sebastião, recomendando-lhe que sempre se aconselhe com os melhores, governe com justiça, premeie apenas e sempre quem merece, lute com bravura e inteligência para expandir Portugal e a fé cristã.
Mas também mostra as suas dúvidas quanto ao futuro deste povo:
Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
De hũa austera, apagada e vil tristeza. (145)

É um Camões que termina não só cansado de escrever, mas desgostoso com o modo como encara o futuro e magoado com o mau tratamento que a Pátria lhe deu. Foi-lhe estabelecida uma pensão razoável, mas que só se manteve por três anos, sendo paga de forma irregular, fazendo com que o poeta passasse por dificuldades materiais. De tal modo que terá vivido os seus últimos anos num quarto de uma casa próxima da Igreja de Santa Ana, em Lisboa, numa situação, segundo narra a tradição, da mais indigna pobreza, "sem um trapo para se cobrir".



4.4.Interpretação
a) Epopeia marítima
Numa leitura superficial, a nossa epopeia descreve a viagem de Vasco da Gama até à Índia, durante a qual, por vários meios, se vai contando a história e os feitos dos Portugueses. Vasco da Gama poderia ser o protagonista, o herói:
Vasco da Gama, o forte Capitão,
Que a tamanhas empresas se oferece,
De soberbo e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece, (I, 44)
De qualquer modo, trata-se de uma epopeia do mar, já que o valor dos feitos náuticos se sobrepõe ao dos feitos militares, de que praticamente não se fala no poema. Já para Pedro Nunes, como atrás citei, os grandes actos heróicos dos portugueses estavam essencialmente ligados à conquista do mar. E também Diogo de Sá, apesar de crítico de Pedro Nunes, escrevia, dirigindo-se a D. João III: “Qual deles (dos Antigos) travou conhecimento com o que era ignorado para a maior parte dos homens? Quem encheu o mar de navios e bergantins? Quem deu a conhecer todas as zonas habitáveis? … Na verdade ninguém, a não ser a gente Lusitana, sujeita a Vossa Alteza” (18*).
Esta é, pois, uma epopeia do Mar, ou melhor, dos homens que num “lenho leve” (I, 27) dominaram os vastos oceanos. Não se trata já do mar interior de Homero ou de Virgílio, mas dos mares exteriores dominados por novas técnicas de navegação.
Neste contexto pode encontrar-se a explicação para o facto de Camões, não ter como em todas as epopeias anteriores e do seu tempo, uma descida aos infernos. “Camões aproveita a ideia da catábase (descida aos infernos) não para o interior da terra, mas para o interior do mar, no contexto experimental e geográfico dos navegantes portugueses, os quais, arriscando a vida e suportando dificuldades, estavam a percorrer o desconhecido para além do limite que lhes era vedado pelo saber dos deuses. Trata-se de uma catábase marinha, inovadora na epopeia, por ser a epopeia dos tempos modernos. As catábases das epopeias greco-latinas e do Orlando Furioso eram intra-telúricas. Em Os Lusíadas, trata-se de uma catábase marinha, não de um herói (como Ulisses, Eneias), nem de Juno a convocar Alecto, nos infernos, para a discórdia (Eneida,VII, 323-341), no espaço intra-telúrico, nem de contacto com as sombras dos mortos, mas de uma catábase marinha, realizada por um deus ligado à terra, ao Oriente e à festa (Baco) que pede a Neptuno que convoque um concílio dos deuses marinhos para tentar mudar o futuro das viagens marítimas para o Oriente” (…) Camões veio dar novas conotações muito profundas à viagem de catábase. Concilia a catábase marinha, no início do Canto VI, a meio do poema, com a anábase, no ascenso de Vasco da Gama, com Tétis, na Ilha do Amor, no final de Os Lusíadas; conclia, na lírica, a catábase ou desafio às profundezas do eu-lírico com a anábase, nas redondilhas Sobolos Rios. Pelo que acabamos de expor, o ascenso a um saber superior, ao conhecimento antecipado do futuro, é conferido aos heróis das epopeias homérica e vergiliana, apenas através da descida aos infernos, onde era possível o contacto com os mortos e os segredos do espírito. A catábase greco-latina está enraizada em complexas concepções do divino e relacionada com os mistérios e o orfismo. Com o aparecimento do cristianismo, a iniciação a mistérios apenas para uma minoria de seres foi assumida pela comunidade dos Essénios e pelos gnósticos, tendo continuado na Idade Média, através do esoterismo, da alquimia e dos ritos das sociedades secretas. A grande novidade da religião cristã é que todos os homens podem procurar Deus, porque o próprio Deus encarnou e teve existência histórica, na figura de Jesus Cristo. Assim tornou-se possível para todos os homens procurá-Lo por via mística ou outra” (19*).

Dante e Virgílio no Inferno (E. DELACROIX; 1822)


b) Epopeia colectiva
Mas aprofundando um pouco mais verificamos que Vasco da Gama é um herói, mas com poderes limitados, porque não só depende muito da ajuda dos deuses mitológicos (maravilhoso pagão) mas também precisa da ajuda e da confiança “naquele Deus que o mundo governava” (II, 12): “em nenhuma outra cousa confiado / senão no sumo Deus que o céu regia” (III, 43); “A Deus pedi que removesse os duros / casos que Adamastor contou futuros” (V, 60); “os joelhos no chão, as mãos ao Céu, / a mercê grande a Deus agradeceu” (VI, 93); “do Deus que tem do mundo o regimento” (VII, 69).
Portanto estaríamos perante um herói colectivo: o povo português, os lusíadas, que até deram nome ao nosso poema épico. Camões rapidamente deve ter percebido que, para lá da extraordinária viagem marítima até à Índia, havia algo mais profundo que apontava para uma epopeia colectiva, qualquer coisa de novo que transcendia os feitos contados pelos poetas de todos os tempos, como refere em I, 3, já comentada atrás.
Aliás esta ideia já a encontrámos em textos, citados em posts anteriores, de Pedro Nunes ou Garcia de Orta e outros que poderia citar de Duarte Pacheco ou de João de Castro.
Parece, pois, evidente que o objectivo de Camões não foi apenas glorificar os portugueses, mas sim imortalizá-los, sem esquecer que nem todos se comportaram com dignidade, como refere em várias passagens (já citei VIII, 88-89) e resumiu nestes dois versos:
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns tredores houve algũas vezes. (IV, 33,7-8)

Camões acreditava no discurso dominante em Portugal na sua época, de que os portugueses tinham uma missão civilizadora a cumprir no mundo. “Na sua juventude amou mulheres que nada tinham de incorpóreo; na segunda metade da sua vida sublimou, no amor da pátria, um temperamento apaixonado que os sofrimentos e o tempo não o podiam acalmar”. Este amor, esta verdadeira paixão pelo seu país, vai-se manifestando ao longo da epopeia: “pátria tão querida” (III, 12), “ditosa pátria minha amada” (III; 21); “pátria amada” (III, 24; IX, 51; X, 143). Colocava-se, assim, na linha daqueles que celebravam “a quinhentista dilatação imperial, conferindo-lhe um valor religioso e por vezes messiânico e apocalíptico, tendendo a ver Portugal como um novo povo eleito para a consumação do triunfo do cristianismo e do sentido da história” (20*), de que é exemplo paradigmático o “Quinto Império” do P.e António Vieira.
Camões não tem dúvidas sobre a alta missão confiada aos portugueses:
Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que à custa de vossas várias mortes
A lei da vida eterna dilatais:
Assi do céu deitadas são as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade:
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade! (VII, 3)
1.poucos quanto fortes (1): são tão fortes quanto são de poucos;
2.várias mortes (3): mortes em batalhas, em naufrágios, em prisões, etc.;
3.lei da vida eterna (4): há quem veja aqui uma referência à religião cristã; mas Camões também poderia querer dizer que por causa das diferentes mortes na defesa da fé e do império (alguns) Portugueses se imortalizaram;
4.do céu deitadas as sortes (5): é uma missão, dada por (do, agente da passiva) Deus, que muito façais pela cristandade, lutando contra os muçulmanos.

Impérios Muçulmanos em 1555
Fonte: Os Lusíadas, Porto Editora, p. 461

Camões manifesta a convicção de que a missão dos Portugueses é um mandato (directo) de Deus. Por isso, não deixa de ser curioso que, enquanto afirma a ideia de um poder supremo, criador e regulador do mundo, claramente identificado com o Deus dos cristãos (“O falso deus adora o verdadeiro”: II, 12) a que Gama várias vezes recorre, as ajudas divinas (não mitológicas) são praticamente inexistentes. É o Homem, na sua pequenez (“bicho da terra vil e tão pequeno” (21*), a fazer lembrar o Salmo 8) que combate numa “total desarmada solidão” (22*) contra o mundo hostil:
Oh! Grandes e gravíssimos perigos,
Oh! Caminho de vida nunca certo,
Que, aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!

No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida;
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno? (I, 105-106)?
Eu não concordo que o homem lute sozinho. Prefiro outra leitura: a de Deus, como Causa primeira, a actuar através de causas segundas, neste caso os seres humanos, que, com as suas forças, na sua, só aparentemente, “total desarmada solidão”, fazem andar a História:
Enfim que o Sumo Deus, que por segundas
Causas obra no Mundo, tudo manda. (X, 85,1-2).

Uma missão para todos os povos cristãos
Camões ia um pouco mais longe: a missão de dilatar a Fé ("a lei da vida eterna dilatais": VII,3) não era só dos Portugueses, mas de todos os povos cristãos, sob o comando dos Portugueses (embrião do Quinto Império atrás referido). Por isso, condenava tão veementemente os outros povos cristãos, que, em vez de também eles defenderem em conjunto a fé cristã, preferiam não só guerrear-se entre si dispersando forças, mas, pior ainda, chegarem alguns ao cúmulo de se aliar ao inimigo que deviam combater.


Assim o vemos a zurzir cada um desses povos:
- os alemães, por apoiarem a reforma protestante e recusarem a autoridade do Papa:
Vedelos Alemães, soberbo gado,
Que tão largos campos se apacenta;
Do sucessor de Pedro rebelado,
Novo pastor e nova seita inventa
Vedelo em feias guerras ocupado
Que inda co cego error se não contenta,
Não contra o superbissimo Otoamno,
Mas por sair do jugo soberano. (VII,4)
1.soberbo (1): rebelde
2.gado (1): corresponde a “pastor” (4);
3.sucessor de Pedro (3): Papa;
4.apacenta (2): habita;
5.novo pastor (4): Lutero;
6.nova seita (4): protestantismo;
7.feias guerras (5): sobretudo as guerras entre protestantes e católicos, no reinado de Carlos V  (1500-1558), Imperador do Sacro Império Romano (e também Carlos I de Espanha);
8.cego error (6): luteranismo;
9.superbíssimo Otomano (7): foi no reinado de Solimão II (1520-1566) que o império turco atingiu o seu maior poder e grandeza;
10.por sair (8): para se furtarem;
11.jugo soberano (8): obediência ao Papa;


- “o duro inglês”, por romper as suas relações com a Igreja Católica, criando a Igreja Anglicana:
Vedelo duro Inglês, que se nomeia
Rei da velha e santíssima Cidade,
Que o torpe Ismaelita senhoreia
(Quem viu honra tão longe da verdade?),
Entre as Boreais neves se recreia,
Nova maneira faz de Cristandade:
Pera os de Cristo tem a espada nua,
Não por tomar a terra que era sua. (VII, 5)
1.duro (1): possível referência a Henrique VIII (1509-1547) que decapitou duas das suas mulheres;
2.se nomeia (1): se intitula; não parece absolutamente certo que Henrique VIII se intitulasse “Rei de Jerusalém”; mas "quem viu honra tão longe da verdade?”;
3.santíssima Cidade (2): Jerusalém;
4.torpe (3): porque segue “do Arabio (Muahmmad = Maomé) lei maldita” (IV, 100);
5.Ismaelita (3): muçulmano; Ismael era filho de Abraão e de Agar, porque a sua mulher Sara, não conseguindo ter filhos, disse a Abraão: “Visto que o Senhor me tornou uma estéril, peço-te que vás ter com a minha escrava." (Gn 16,2). E assim nasceu Ismael, de quem também nasceria um grande povo (Gn 21,13; 25,12-18). Por isso, se fala também de Ismaelitas ou Agarenos; 
6.senhoreia (3): Jerusalém pertencia ao império turco desde 1517;
7.nova maneira de Cristandade (6): Igreja anglicana;
8. espada nua (7): desembainhada; pronta para combater;
9. por (8): para.

Guarda-lhe, por entanto, um falso Rei
A cidade Hierosólima terreste,
Enquanto ele não guarda a santa Lei
Da cidade Hierosólima celeste. (VII, 6,1-4)
1.falso (1): ilegítimo;
2. Cidade Hierosólima (Jerusalém): latinismo como Urbs Roma, “cidade (de) Roma”
3.terreste(2): terrestre; talvez por influência de celeste (4);
4.ele (3): Henrique VIII;
5.Hierosólima celeste (4): Reino de Deus;


- o “indigno” o reino da França que não procura defender a Igreja dos contra-reformadores:
Pois de ti, Galo indigno, que direi?
Que o nome «Cristianíssimo» quiseste,
Não pera defendê-lo nem guardá-lo,
Mas pera ser contra ele e derribá-lo! (VII, 6,5-8)
1.Galo indigno (4): Francisco I de França (1515-1547) que, na guerra contra Carlos V, se aliou aos Turcos;
2. “Cristianíssimo” (5): a França era chamada “a filha mais velha da Igreja” (la fille aînée de l’Église), por ter sido a primeira nação convertida ao Cristianismo e porque tinha uma tradição de protectora da Igreja desde Carlos Magno. Tendo sido coroado pelo papa Leão III, no Natal de 800, Carlos Magno, ao tornar-se assim Imperator Romanorum, concebeu a sua missão numa perspectiva cristã, assumindo como projecto a realização da “Cidade de Deus” de S.to Agostinho. A formulação exacta do seu pensamento está expressa na sua Carta ao Papa: “Compete-me defender no exterior e por todas as partes a santa Igreja de Cristo contra as incursões pagãs e as devastações cometidas pelos infiéis e corroborar no interior a fé católica enuncinado-a com clareza e submetendo-me a ela” (23*). Além dos títulos Rex Francorum (rei dos francos), ou Franciae Rex (rei da França), que Luís IX (1214-1270)  foi o primeiro a usar, os monarcas franceses também eram intitulados Rex Christianissimus (rei cristianíssimo).
Achas que tens direito em senhorios
De Cristãos, sendo o teu tão largo e tanto,
E não contra o Cinífio e Nilo rios,
Inimigos do antigo nome santo?
Ali se hão-de provar da espada os fios
Em quem quer reprovar da Igreja o canto.
De Carlos, de Luís, o nome e a terra
Herdaste, e as causas não da justa guerra? (VII, 7)
1.Cinífio(3): um rio da Líbia;
2.Cinifo e Nilo (3): estão aqui por Tripolitana, uma das regiões da Líbia, e Egipto, que há muito professavam o Islamismo e pertenciam já ao império otomano;
3.nome santo (4): Jesus Cristo = religião cristã;
4.da Igreja o canto (6): a pedra angular da Igreja (Mt 16,18), o Papa;
5.Carlos (7): Carlos Magno;
6.Luís (7): S. Luís IX;


- e a própria "Itália", onde se situa a sede da Igreja Católica, mas que está mergulhada em vícios e se deleita com os prazeres mundanos:
Pois o que direi daqueles que em delícias,
Que o vil ócio no mundo traz consigo,
Gastam as vidas, logram as divícias,
Esquecidos de seu valor antigo?
Nascem da tirania inimicícias,
Que o povo forte tem, de si inimigo.
Castigo, Itália, falo, já summersa
Em vícios mil, e de ti mesmo adversa. (VII, 8)
1.logram (1): gozam, fruem;
2.divícias (3): riquezas, latinismo divitiae;
3.inimicícias (5): inimizades, latinismo inimicitiae;
4.tem (6): mantém;
5. de si inimigo (6): inimigo de si mesmo, porque este povo forte está dividido em muitos estados que se guerreiam encarniçadamente;
6.vv.7-8: há aqui certamente uma influência de Ariosto:
O d’ogni vizio fetida sentina,
Dormi, Italia imbriacata, e non ti pesa
Ch’ora di questa gente, ora di quella
Che già serva ti fu, sei fatta ancella? (Orlando Furioso, XVII, 76,5-8)
Oh! De todos os vícios do esgoto fétido
Itália embriagada, dormes; e não te pesa
Que ora a uns povos ora a doutros,
Que já foram teus escravos, estejas submetida?
Dante foi bem mais violento:
Ahi serva Italia, di dolore ostello,
nave sanza nocchiere in gran ecipro,
non donna di province, ma bordello! (Divina Comédia, Purgatório, VI, 76-78)
Ai serva Itália, que és da dor hotel,
nave a que arrais no temporal não resta,
não dona de províncias, mas bordel! (tradução de V. Graça Moura)


- enfim, todos os cristãos que não se unem para se defender do inimigo turco:
Ó míseros cristãos, pola ventura
Sois os dentes, de Cadmo desparzidos,
Que uns aos outros se dão à morte dura,
Sendo todos de um ventre produzidos?
Não vedes a divina Sepultura
Possuída de Cães, que, sempre unidos,
Vos vem tomar a vossa antiga terra,
Fazendo-se famosos pela guerra? (VII, 9)
1.dentes, de Cadmo desparzidos (2): Cadmo, para vingar a morte de alguns companheiros, matou o dragão que os devorara. Atena apareceu-lhe e aconselhou-o a semear os dentes do animal, o que ele fez, e imediatamente da terra brotaram homens armados. Estes homens tornaram-se perigosos e Cadmo resolveu atirar-lhes pedras para se defender. Não vendo quem os feria, acusaram-se reciprocamente e massacraram-se. Sobreviveram apenas cinco, que ajudaram Cadmo a fundar Tebas;
2.de um ventre produzidos (4): nascidos do mesmo ventre;
3.divina Sepultura (5): Santo Sepulcro (de Cristo);
4.de Cães (6): de Turcos; de em vez de por, agente da passiva;
5.vossa antiga terra (7): Jerusalém;
6.guerra (8): as Cruzadas que os cristãos organizaram.


Assim faz um paralelismo entre o comportamento dos países cristãos e os portugueses.
Caindo no pecado do anacronismo, gostaria de abrir um parêntesis para dar a palavra ao crítico literário brasileiro Silviano Santiago, pois só pode ser enriquecedor ouvir o outro, o que foi “descoberto”:
"A colonização pela propagação da Fé e do Império é a negação dos valores do Outro (Camões infelizmente não foi bastante lúcido para perceber que a moeda tem duas faces). A tripla negação do Outro para ser mais preciso. Primeiro: do ponto de vista social, já que o indígena perde a liberdade, passando a ser súbdito de uma coroa europeia. Segundo: o indígena é obrigado a abandonar o seu sistema religioso (e tudo o que ele implica de económico, social e político), transformando-se - pela força da catequese - em mera cópia do europeu. Terceiro: perde ainda a sua identidade linguística, passando gradativamente a expressar-se por uma língua que não é a sua.” (24*)

Velho do Restelo
Neste contexto de exaltação dos feitos dos portugueses, em resposta à missão recebida de Deus, não pode passar despercebido um dos episódios mais controversos e discutidos de Os Lusíadas, o do Velho do Restelo (25*) não só pela densidade multifacetada e tamanho do longo discurso (11 estrofes), mas, sobretudo, pela sua colocação num ponto privilegiado:
- no final do canto (IV), espaço que Camões reserva para as suas considerações filosófico-morais;
- e quase no centro do poema, exactamente antes do canto V, um verdadeiro canto-charneira, pois a partir daqui entra-se no “presente” da acção e Camões deixa claro, na sua parte final,  que, apesar do recurso à simbologia mitológica, ele apenas conta a verdade:
Ventos soltos lhe finjam e imaginem
Dos odres, e Calipsos namoradas;
Harpias que o manjar lhe contaminem;
Decer às sombras nuas já passadas:
Que, por muito e por muito que se afinem
Nestas fábulas vãs, tão bem sonhadas,
A verdade que eu conto, nua e pura,
Vence toda grandíloca escritura! (V, 89)
1.Ventos soltos… dos odres (1-2): na ilha Eólia, Ulisses recebeu um odre que continha os ventos desfavoráveis à viagem para a sua Ítaca; mas, enquanto dormia, os seus marinheiros, pensando que continha ouro e prata, abriram-no, atrasando o seu regresso (Odisseia X, 16-55);
2.finjam e imaginem (1): o sujeito destes verbos é Homero e Virgílio;
3.Calipsos namoradas (2): a ninfa de Ogígia que se enamorou de Ulisses e o reteve sete anos até ser obrigada por Zeus a libertá-lo;
4.Harpias (3): monstros alados, com rosto de mulher, orelhas de urso e garras nos pés, que tentaram envenenar Eneias (Eneida III, 227s);
5. descer (4): alusão à descida aos infernos de Ulisses (Odisseia XI) e Eneias (Eneida V);
6.sombras nuas (4): as almas despidas do corpo;
7.passadas (4): já falecidas;
8. afinem (5): descubram, afirmem;
9. sonhadas (6): fantasiadas;
10.nua e crua (7): exacta, rigorosa;
11.gradíloca escritura (8): as epopeias da antiguidade clássica: Ilíada, Odisseia e Eneida.


Camões quis dar aqui espaço a uma corrente muito significativa dos que eram contra uma estratégia aventureirista do "Deixas às portas o inimigo, / Para ires buscar outro de tão longe, / por quem se despovoe o Reino antigo, / Se enfraqueça e se vá deitando a longe":
Não tens junto contigo o Ismaelita,
Com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do Arábio a lei maldita,
Se tu pola de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
Se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado?

Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
Por quem se despovoe o Reino antigo,
Se enfraqueça e se vá deitando a longe;
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a Fama te exalte e te lisonje
Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia. (IV, 100-101).

O Velho do Restelo critica esta ousadia dos que se dispõem a afrontar os mares e os perigos, desejosos da "vã cobiça", da "glória de mandar" e de "esta vaidade a quem chamamos fama", dominados por um inexplicável “fogo de altos desejos”, os que se dispõe a tudo sacrificar, até a própria vida, atirando-se para o desconhecido, chamando esforço e valentia à brutal crueldade e ferocidade. O Velho do Restelo quer advertir contra esta arrogância e ambição desmedidas, nascidos de "altos desejos". O resultado só pode ser a ruína, como aconteceu tanto a Fetonte, "o moço miserando", que se atreveu, sem ter capacidade para o fazer, a conduzir o carro do seu pai, Hélios (o Sol), queimando a Terra, pelo que foi fulminado por Zeus, como a Ícaro, que não resistiu à tentação de voar até ao Sol com as suas asas de cera, que rapidamente derreteram, precipitando-o mortalmente contra a Terra.
O Velho tem uma visão pessimista sobre a condição humana ("mísera sorte, estranha condição"), apenas sujeita ao desejo de fama, glória e riqueza. Não percebeu que tudo isso não chega, porque o que nos comanda é o Sonho, a conquista de novas fronteiras, materiais ou espirituais, que o Homem é tão corajosamente ambicioso como Prometeu e tão saudavelmente louco como Ícaro:
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança. (26*)

O Povo-Herói
Para Camões, o Herói não é o que escuta sensatamente os conselhos do bom senso e da razão do Velho do Restelo, não é o que fica sossegado "na sua quinta" não se envolvendo na construção de uma História nova deixando-se levar pelos acontecimentos.
O Herói para Camões é o povo que aceita a missão divina de ir por toda a terra espalhar a fé, que está pronto a enfrentar os perigos e o desconhecido para saber mais e poder deixar em herança um mundo melhor, que está sempre pronto para partir, pois “Em qualquer aventura, / O que importa é partir, não é chegar” (27*),  que acredita que "Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena" (28*), que responde, sem saber para onde vai, sempre que “outro valor mais alto se alevanta” (I, 3,8), impelido por uma força irresistível, pelo “fogo de altos desejos”, que basicamente se identifica com aquele Amor que Vénus representa, aquele impulso vital instintivo, mas também profundamente humano, tendente à realização da própria grandeza moral, a glória a que se refere o poema.

Esta leitura leva-nos a uma apreciação ainda mais profunda de Os Lusíadas: o grupo dos navegadores chefiados por Vasco da Gama representa mais do que o povo português, representa toda a Humanidade, o Homem, como Camões o concebe, forte e leal no espírito, resistente e sofredor no corpo. Aliás as próprias palavras do Velho do Restelo apontam já nesse sentido. Apesar de se dirigir aos que iam partir e aos que tudo organizaram, ele vai pontuando as suas reflexões com referências à "humana geração" (104), à "geração daquele insano (Adão)" (98), ao comportamento de Prometeu (103).


Referências
18*) Citado por LUÍS DE ALBUQUERQUE, « Do clima em que Camões planeou ‘Os Lusíadas’ » in VérticeNº436-439 (Set/dez.1980), p. 346.
(19*) H.S.C. LANGROUVA, A ideia de viagem de Homero a Camões (2)
(20*) PAULO A. E. BORGES, Eros e Iniciação em Luís de Camões. A «Ilha dos Amores».
(21*) CAMÕES, Canção VII "Junto de um seco, fero e estéril monte", 75.
(22*) M.H.A. ESTEVES, O sistema alegórico de Os Lusíadas, p. 44.
(23*) AA.VV., Nueva História da Iglesia, II. La Iglesia en la Idade Media, p. 87.
(24*) SILVANO SANTIAGO, Por que e para que viaja o europeu?, p.225, citado aqui.
(25*) M.H.A. ESTEVES, O sistema alegórico de Os Lusíadas, pp. 57-63.
(26*) ANTÓNIO GEDEÃO in Movimento Perpétuo (1956).
(27*) MIGUEL TORGA, Viagem in Câmara Ardente (1962).
(28*) FERNANDO PESSOAMar Português in Mensagem.

(continua)

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