Hoje sabemos que não há centro no Universo. Todos os pontos se afastam uns dos outros, devido à expansão cósmica: cada ponto vê os outros a afastarem-se como se estivesse no centro. Num Universo tão grande, somos tão pequeninos que passamos facilmente despercebidos. Vou aqui deixar algumas imagens que nos dão uma ideia da nossa insignificância e nos ajudam a perceber onde estamos.
Esta visão nocturna da Terra é uma fotomontagem de milhares de imagens tiradas pelos satélites DMSP. (Defense Meteorological Satellites Program), lançados pela Força Aérea dos Estados Unidos desde de meados dos anos 60.
Apesar de obtidas a uma altitude de 450 milhas náuticas (1 852 m), este somatório de imageens mostra as profundas desigualdades em que está dividido o nosso planeta: os ricos, aqui indicados pela intensidade luminosa das suas cidades, e os pobres, mergulhados na escuridão da luz, da fome, do desespero e da falta de esperança. Tantas descobertas científicas e tecnológicas, tanta exploração de recursos e, mesmo asssim, tanta gente a viver na pobreza: cerca de um tercço da humanidade vive com menos de 1,5 euro por dia.
E quando se esperava que a globalização trouxesse uma solução mais humana, afinal aconteceu o contrário, aumentando o fosso entre os dois "mundos". Porque, como diz Bento XVI, na sua última encíclica, "a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos. A razão, por si só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência cívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade" (Deus é Amor, 19).
Vista de longe, a Terra parece um "paraíso" com lindas cores. Olhada assim é impossível não perceber que temos apenas uma casa comum . Aqui não distinguimos povos nem países, não distinguimos ricos nem pobres. Esta imagem ajudou-nos, quando foi vista a primeira vez, a ganhar uma consciência planetária. Mas foi sol de pouca dura. Rapidamente retomámos os nossos conflitos, as nossas ambições desmedidas e lesivas dos outros, as guerras, a ganância. Porque o que nós vemos é apenas o que nos rodeia, a nossa pequena aldeia e não conseguimos uma vista de conjunto, a da aldeia global.
Esta imagem mostra-nos que afinal não passamos de uma Lua, maior que o nosso satélite, mas não temos grande diferença, quando vistos de longe: a Lua, que nem se quer tem vida, como a imagem de baixo mostra num "cair de tarde" com as sombras a alongarem-se nas crateras. E lá longe, lá estamos nós, tão minusculamente insignificantes.
Espreitando de mais longe, agora através da sonda Cassini, que sobrevoava os anéis de saturmno, lá estamos nós um grão de poeira quase invisível. Que coisa tão pequenina e tão solitária num ambiente frio e escuro! Quem diria que ali se chocam 6 mil milhões de vontades, que ali vivem 6 mil milhões de pessoas, com rosto, com inteligência, com sentimentos e emoções!
Iluminados pela nossa estrela, o Sol, ficámos bem situados para que a vida aqui aparecesse, se desenvolvesse, se complexificasse e se tornasse consciência. Bastava ter ficado mais perto ou mais longe do Sol e essa possibilidade gorava-se e não estaríamos aqui a viver, com as nossas alegrias e tristezas, esperanças e angústias, vítórias e fracassos.
Afinal fazemos parte de uma família maior com sete irmãos crescidos e uma meia dúzia de miúdos, tudo numa aparente harmonia, mas cuja história envolveu muito "suor, sofrimento e lágrimas". Mas acabámos por nos acomodar, arranjando espaço para todos, para os "grandes" e para os "pequenos".
E continuando a olhar cada vez para mais longe, descobrimos que há muitas outras estrelas. Terão planetas como a nossa Terra? Terão sequer vida nas suas formas mais elementares?
Perdidos num dos braços da Via Láctea, o braço do Orion, lá está o nosso Sol, uma das 200 mil milhões de estrelas que constituem a nossa galáxia.
Agora o nosso Sol desapareceu do mapa, como a maior parte das estrelas. O que passa a contar são as galáxias. O Sol gira em torno da Via Láctea à velocidade de cerca de 250 Km/s.
A Via Láctea está incluída no nosso "Grupo Local", que contém cerca de 50 galáxias e está a ser atraido, à velocidade de 250 Km/s, pelo Aglomerado da Virgem, que contém cerca de 2000 galáxias. O nosso Grupo Local e o Aglomerado da Virgem fazem parte do Superaglomerado da Virgem, chamado também de Superaglomerado Local, formado por uma centena de grupos e aglomerados de galáxias. Supõe-se que o Universo visível tenha uns 10 milhões de Superaglomerados.
Aqui vêem-se várias galáxias muito brilhantes:
Olhos de Markarian, à esquerda em cima;
M86, acima do centro, M84, no meio à direita e
a espiral NGC 4388, em baixo à direita
Eu Sou do Tamanho do que Vejo
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos - Poema VII
Museu Grão Vasco, Viseu
1 comentário:
Post sensacional!
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